A descoberta pelo prazer da leitura



O hábito da leitura não foi estimulado durante minha infância, a realidade que me cercava (família, escola e amigos) não proporcionaram exemplos sólidos que pudesse seguir. Na adolescência, o cenário não se alterou, ler ainda era algo muito distante de mim. Tive que dar atenção a alguns livros no ensino médio, mas confesso que foi por pura obrigação.
O primeiro livro que li nesse período, lembro como hoje, falava sobre política com uma abordagem filosófica. Além desse, deparei-me com alguns clássicos da literatura, o arsenal da matéria, na escola, era antigo, a linguagem e a forma de escrita, bem arcaicas. Sério, se para quem já é leitor assíduo tais textos podem ser desconfortáveis, imagine para quem não é ter como “livros primogênitos” leituras densas e de compreensão mais difícil. É como entregar uma criança medrosa ao bicho papão (rsrsrsrs). A partir de então, comecei a acreditar que ter o prazer em ler era uma impossibilidade para minha existência.
Só depois que fui para o cursinho - visando a preparação para o concorrido vestibular de medicina, no início da minha face adulta - que me deparei com pessoas que carregavam em si grande empatia pelo universo das palavras. Achava interessante como se concentravam, riam e até formavam grupos para discutir determinadas histórias, e as discussões eram bem calorosas. Comecei, então, a indagar-me se também seria capaz de sentir o que eles sentiam diante de várias folhas enumeradas. Fui pesquisar a respeito e achei esse fantástico vídeo do professor Pierluigi Piazzi (vale a pena conferir):
Descobri que deveria dedicar um tempo para descobrir o meu estilo de leitura, talvez não achasse de primeira (assim como afirmou o prof no vídeo), mas deveria continuar tentando. Conversei com a professora de linguagens (Sabrina Lucas, por quem tenho grande admiração) a respeito e ela indicou O Monge e o Executivo entre outros, mas foi desse que corri atrás; o achei na biblioteca da cidade, e não hesitei, levei-o para casa e o devorei no final de semana. A experiência foi incrível: ri, chorei, me descontrai e, quando terminou, senti falta. Foi a primeira vez que senti tais sensações na companhia de um conjunto de páginas escritas.
Mesmo com essa ótima experiência, as vezes me surpreendia com pensamentos negativos a respeito da minha capacidade de ter prazer em ler. Certo dia, a mesma professora me emprestou os livros Quem Somos Nós? e A Sombra do Vento - essa ordem que os li. Com o primeiro me deparei com as seguintes citações:
- “Tudo o que somos é resultado do que pensamos. A mente é tudo. Nós nos tornamos aquilo que pensamos”.
- "Quando nos libertamos das premissas sobre nós mesmos, crescemos mais do que imaginamos ser possível."
Simplesmente, um tapa na minha cara! O alicate hidráulico, ou melhor dizendo, a Lei Áurea que faltava para me libertar das correntes que escravizavam minha mente na ignorância de não amar o incrível ato de ler.
Após ter rompido as barreiras da deficiência do processo de aprendizado e as que eu mesma construí, hoje consigo “devorar” livros, passar horas agarrada a eles, chegar à madrugada aventurando-me em capítulos, trocar outras atividades pelo deleite da leitura. Hoje eu posso afirmar: encontrei o mais saudável, fantástico, fascinante e admirável amor. O amor pelas histórias, o amor pelo excepcional sensação que se tem ao estar na companhia de um bom livro.
Se você ainda não conseguiu despertar o leitor ativo que há em seu interior, independente de sua faixa etária, grupos de convivência e histórico escolar, não é tarde para desenvolver tal habilidade (aqui estou como exemplo vivo de que, sim, é possível). Basta conseguir unir os seguintes elementos:
1. Ter a VONTADE de quebrar o paradigma que você mesmo construiu sobre o seu relacionamento com os livros;
2. Aplicar a ideia: começou um livro e não gostou? Pare, passe para outro;
3. Conversar com bons leitores e adquirir deles algumas referências;
4. Leia um pouco todos os dias;
Aprender a vencer-se a cada dia é fundamental para adquirir maestria em atividades novas exteriores a nossa realidade. Dê o primeiro passo, o prazer em ler não é nada mais do que treino: requer muita prática e persistência.
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